segunda-feira, 11 de outubro de 2021

90 Anos da Inauguração do Cristo Redentor

Comemoração aos 90 anos da inauguração do Cristo Redentor, símbolo do Brasil e do mundo.
Alexander Zhebit

O Cristo Redentor na capa da Revista Histórica da Rússia "Rodina", publicação comemorativa dos 185 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a Rússia.

No dia 12 de outubro – a festa da padroeira do Brasil Nossa Senhora de Aparecida – completam-se 90 anos da inauguração da estátua do Cristo Redentor no Alto do Corcovado, Rio de Janeiro.

Idealizado pelo padre lazarista francês Pierre-Marie Boss (1844-1916), o projeto de monumento ao Cristo, apoiado por diversos grupos da sociedade e pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, ganhou força durante a presidência de Epitácio Pessoa (1919-1922), que aprovou em 1922 a edificação do monumento, a ser realizado sob a coordenação da comissão promotora do monumento, liderada pelo Cardeal Sebastião Leme da Silveira Cintra.

Em 1923 foi promovida a “Semana do Monumento” que arrecadou contribuições da população, na Cidade do Rio e em diversos cantos do País, reunindo doações dos bairros ricos e pobres, de favelados e de indígenas, de mulheres, de idoso e de crianças. Com outra campanha de 1929 para angariar doações foi atingido o valor necessário para levar o projeto de monumento à conclusão.

Em 1924 foi aprovado o projeto final do arquiteto Heitor da Silva Costa, complementado com desenhos do pintor Carlos Oswald e com o projeto escultural (da cabeça e mãos da estátua) do francês Paul Landowski. Da parceria destas personalidades e da cooperação dos muitos engenheiros e técnicos, dos trabalhadores de construção e de acabamento da escultura e do acesso ao Alto do Corcovado nasceu o monumento ao Cristo Redentor, obra prima de leveza e de grandeza, uma estátua lembrando uma cruz, com os braços abertos, abençoando a Cidade e o mundo.

Ela foi erguida entre 1926 e 1931 com 38 m de altura, junto com 8 m do pedestal, com 30 m da distância entre os extremos dos dedos, pesando 1145 toneladas e revestida por pequenos triângulos de pedra-sabão de cor levemente esverdeada.

Permito-me citar uns trechos do livro de Jorge Scévola de Semenovitch “Corcovado, a conquista da montanha de Deus. A história da Estrada de Ferro e do Monumento ao Cristo Redentor. Rio de Janeiro: Lutécia, 1997”, referindo-me à cerimônia de inauguração, descrita pelo autor. Escreve o autor:

A inauguração da maior estátua religiosa do mundo foi precedida de grandes solenidades. Convergiam para o Rio peregrinos de todas as partes do Brasil e de muitos outros países para as comemorações. Os festejos da “Semana Nacional do Cristo Redentor” foram iniciados no domingo, dia 4, e se estenderam até o dia da inauguração, segunda-feira, 12 de outubro de 1031. Participaram das solenidades os mais altos dignitários da Igreja Católica no Brasil, totalizando quase 50 bispos e arcebispos ... Inúmeras missas eram celebradas todos os dias na Cidade inteira.

Às 8:00 daquele dia 12 de outubro, parou o primeiro trem na Estação do Alto do Corcovado, que levava dezenas de jornalistas e fotógrafos ... O tempo estava ventoso e frio. De vez em quando chuviscava um pouco. ...

Pouco antes das 10:00 já se encontravam junto ao Cristo Redentor todos os bispos e arcebispos do Brasil, o Chefe do Governo Provisório, com a esposa, ... acompanhado de todo o seu ministério, figuras da administração, da diplomacia e da política.

D. Sebastião Leme, Legado Pontifício e Arcebispo do Rio de Janeiro, deu então início à solenidade, proferindo a oração do cerimonial. A bênção do Monumento foi feita em seguida por sua Eminência, que aspergiu água benta sobre a base ...

Terminou pronunciando estas palavras: Cristo vence! Cristo reina! Cristo proteja de todo o mal o seu Brasil!

A todo instante, esquadrilhas de aviões biplanos, com os motores roncando, cruzavam o céu, passando por cima e ao lado da estátua.

À tarde e à noite choveu bastante. Ainda assim o povo se concentrou nas ruas, nas praias e nos morros, em todos os lugares de onde se podia avistar o Cristo Redentor, esperando que as nuvens se afastassem do Corcovado.

A maior concentração popular estava programada para as 16:00, no início da Praia de Botafogo, onde está hoje a estátua do Almirante Tamandaré, locar de onde se poderia apreciar o efeito da iluminação.

O Senador Guglielmo Marconi, cientista de fama mundial, inventor do telégrafo sem fio, em resposta à solicitação do Sr. Assis Chateaubriand, Presidente dos Diários Associados, feita através da Embaixada da Itália, concordou em inaugurar naquela hora (que depois sofreu sucessivos atrasos) a iluminação do Cristo, de bordo de seu iate Electra, ancorado na baía de Nápoles, através das ondas hertzianas, em circuito via Inglaterra, da Companhia Rádio Brasileira.

EApertou ele um botão e o sinal elétrico veio até o Rio de Janeiro, chegando, porém, bastante fraco à estação receptora de Taquara (Jacarepaguá). Resolveu então o engenheiro Gustavo Corção amplificá-lo para que alcançasse o escritório da Radiobrás no centro da Cidade. De lá, o impulso elétrico foi enviado ao topo do Corcovado, pelo Dr. Austregésilo de Athayde, após nova amplificação.

EExatamente às 19:15, a face do Cristo Redentor apareceu iluminada entre as nuvens escuras.” (fim da citação)(páginas 46-48)

Uma nova inauguração e uma nova imagem mundial do Cristo Redentor ressurgiram com a campanha em 2005-2006 da eleição das Sete Novas Maravilhas do Mundo, erigidas pelo homem. A lista das 200 candidaturas foi reduzida a 21 e a votação de abrangência mundial pela Internet, lançada em 07 de fevereiro de 2007, escolheu no dia 07 de julho Sete Novas Maravilhas do mundo, entre as quais o Cristo Redentor, a Grande Muralha, Petra, Machu Picchu, Chichén Itzá, Coliseu e Taj Mahal, mantendo a posição honorífica as Pirâmides de Gizé no Egito (a única das Sete Maravilhas antigas que resistiu à prova do tempo).

Quando escrevi que o Cristo Redentor é símbolo do Brasil e do mundo, queria ressaltar que este símbolo se transformou em uma referência mundial, pela sua atração humanista de abraço, de solidariedade, da paz e da aproximação entre as nações.

Para nós, do Instituto Cultural Brasil – Rússia, o simbolismo do Cristo Redentor é um abraço aos desamparados, aos migrantes, é um encontro das igrejas e dos povos, tanto por intermédio da relação cultural ou do turismo, quanto, por meio da relação entre fiéis e Igrejas, entre as quais a Igreja Ortodoxa Russa.




Em 26 de outubro de 2008 os patriarcas da Igreja Ortodoxa Russa rezaram orações pelos destinos da Rússia e do Brasil, pela união da Igreja, ao realizarem uma divina liturgia ao pé da estátua do Cristo Redentor no Corcovado. Esta liturgia, sem precedentes na história eclesiástica brasileira, foi dirigida pelo metropolita Platon da América do Sul e do Brasil da Igreja Ortodoxa Russa e acompanhada pelo canto de monges russos. A liturgia divina foi assistida pelo Cônsul Geral da Rússia no Rio de Janeiro Alexei Labetskiy, Presidente da empresa Rosatom da Rússia Serguei Kirienko e pelos integrantes da delegação russa, pelos associados do Instituto Cultural Brasil – Rússia, pelos representantes da sociedade civil brasileira e carioca.

Associados do Instituto Cultural Brasil - Rússia com Lea e Jorge Scévola de Semenovitch (no centro) no Corcovado


O Cristo Redentor no dia da Liturgia Divina do Mitropolita Platon


A organização desta inédita aproximação entre a Arquidiocese do Rio de Janeiro e o Patriarcado de Moscou da Igreja Ortodoxa Russa, que resultou na oração ao pé do Cristo Redentor, foi intermediada e assessorada pelo autor do livro citado sobre o Cristo Redentor Jorge Scévola de Semenovitch e pelo Diretor Executivo do Instituto Cultural Brasil – Rússia Mikhail Lermontov Alexander Zhebit.


Da dir. à esq: Jehovah de Arruda Câmara, Sra. Ulla, esposa do Cônsul da Suécia, e o Sr, Bernard Vaena, Cônsul da Suécia no Rio de Janeiro, assistindo o recital do coral



O recital do coral na Igreja da Ordem Terceira do Carmo (Rio de Janeiro)


Com a vinda da missão religiosa russa também chegou ao Brasil o coral do mosteiro Srêtenski de Moscou, no âmbito das comemorações dos Dias da Rússia na América Latina, que apresentou uma série de recitais no Rio de Janeiro e em São Paulo.


Cônsul Geral da Rússia no Rio de Janeiro Sr. Alexei Labetskiy recebe a missão ortodoxa nos Dias da Cultura Russa no Brasil


Uma visita histórica no relacionamento das igrejas – católica e ortodoxa – aconteceu oito anos depois, em 20 de fevereiro de 2016, quando o Santo Patriarca da Igreja Ortodoxa de Moscou e de toda a Rússia Kirill, em sua primeira visita ao Brasil como patriarca, dirigiu a liturgia, ao pé da estatua do Cristo Redentor, orando pelos cristãos perseguidos. Esta foi uma visita oficial e aos eventos cerimoniais religiosos compareceram o Embaixador da Rússia Serguei Akopov, o Cardeal Orani João Tempesta, o Cônsul Geral Vladimir Tokmakov. O Santo Patriarca Kirill fez uma visita à Igreja Ortodoxa da Santa Mártir Zinaída, onde orou uma liturgia divina.





Santo Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa de Moscou e de toda a Rússia no Corcovado


Desde então, o Cristo Redentor simboliza não somente a fé e a unidade cristã no mundo, mas também a aproximação e a união das igrejas cristãs e, particularmente, a entre suas grandes representantes – Arquidiocese do Rio de Janeiro e o Patriarcado da Igreja Ortodoxa de Moscou e da Rússia.




Viva os 90 anos do Cristo Redentor!

2 comentários:

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